Sartre defende o existencialismo contra os católicos afirmando que esta é uma doutrina que torna a vida humana possível graças à subjetividade humana. Sartre ainda especifica a diferenciação entre as duas escolas do existencialismo, a dos existencialistas cristãos Jaspers e Marcel e os ateus Heidegger e o próprio Sartre, afirma que a única coisa que une estas duas correntes é que a existência precede a essência. Ou se preferir é necessário partir da subjetividade.
O existencialismo ateu afirma que, se Deus não existe há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito. Este ser é o homem, ou melhor, a realidade humana. Isto significa que, em primeira instância , o homem existe, surge no mundo e só posteriormente se define.
O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início, não é nada; só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo. Assim, não existe natureza humana, já que não existe um Deus para concebê-la.
O homem é aquilo que ele mesmo faz de si, é a isto que chamamos de subjetividade. Porém, se realmente a existência precede a essência, o homem é responsável pelo que é. Desse modo, o primeiro passo do existencialismo é de por todo o homem na posse do que ele é de submetê-lo à responsabilidade total de sua existência.
Ao afirmarmos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe, e também escolhe todos os homens.
O existencialista, pensa que é extremamente incômodo que Deus não exista, pois, junto com ele, desaparece toda e qualquer possibilidade de encontrar valores num céu inteligível; não pode mais existir nenhum bem a priori; já que não existe uma consciência infinita e perfeita para pensá-lo.
Se Deus não existe, não encontramos já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim não teremos nem atrás nem a frente nenhuma justificativa para nossa conduta. Estamos sós, sem desculpas. É o que se pode expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, mas por estar livre no mundo, está condenado a ser livres.
O existencialista não pensara nunca que o homem possa conseguir o auxilio de um sinal qualquer que o oriente no mundo, pois é o homem quem decifra os sinais.
Então, segundo Sartre, o homem está abandonado; Deus não existe e, a não-existência de Deus tem implicações extremadas. Aliás, alguns dos problemas principais que se levantam do abandono parecem também levantar-se meramente do fato de nós não podermos saber se Deus existe. Se Deus realmente existe, nós "não estamos abandonados". O problema do abandono levanta-se meramente do fato de nós não podermos saber se Deus existe.
Sua existência em tais condições equivale, para Sartre, em uma não-existência efetiva, que tem implicações drásticas. Primeiro, porque não há Deus, não há nenhum criador do homem e nem tal coisa como um concepção divina do homem de acordo com a qual o homem foi criado. Segundo, diz ele, louvando-se em Dostoiévski (na fala de Ivan Karamazov, na famosa novela daquele escritor russo): Se Deus não existe, então tudo é permitido. Terceiro, "Não há um sentido ou propósito último inerente à vida humana; a vida é absurda".
Isto significa que o indivíduo, foi jogado de fato na existência sem nenhuma razão real para ser. "Simplesmente descobrimos que existimos e temos então de decidir o que fazer de nós mesmos.".
Resta como o único valor para o existencialismo ateu a liberdade. Afirma que não pode haver uma justificativa objetiva para qualquer outro valor. Porque não há nenhum Deus, não há nenhum padrão objetivo dos valores. Com o desaparecimento dele, desaparece também toda possibilidade de encontrar valores. Não pode então haver qualquer bem a priori porque se nós não sabemos se Deus existe, então nós não sabemos se há alguma razão final porque as coisas acontecem da maneira que acontecem; não há nenhuma razão final porque qualquer coisa tenha acontecido ou porque as coisas são da maneira que elas são e não de alguma outra maneira e nós não sabemos se aqueles valores que acreditamos que estão baseados em Deus têm realmente validade objetiva. Consequentemente, porque um mundo sem Deus não tem valores objetivos, nós devemos estabelecer ou inventar, a partir da liberdade, nossos próprios valores particulares. Na verdade, mesmo se nós soubéssemos que Deus existe e aceitássemos que os valores devessem basear-se em Deus, nós ainda poderíamos não saber que valores estariam baseados em Deus, nós poderíamos ainda assim não saber quais seriam os critérios e os padrões absolutos do certo e do errado. E mesmo se nós sabemos quais são os padrões do certo e do errado (critérios), exatamente o que significam ainda seria matéria da interpretação subjetiva. E assim o dilema humano que resultaria poderia ser muitíssimo o mesmo como se não houvesse Deus.
Um comentário:
Concordo com o que diz no texto em que a crise do existencialismo existiria mesmo se tivéssemos certeza que Deus existe ou nao.
Pois uma pessoa pode acreditar em Deus, mas nao pode provar a sua existencia.
Deus nos deu o livre-abitrio e portanto somos responsáveis pelos nossas atos.
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